Ministro da Educação não tem pós-doutorado na Alemanha, diz Universidade de Wüppertal

HAMBURGO, ALEMANHA — O novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, não obteve um título de pós-doutor pela Universidade de Wüppertal, no oeste da Alemanha, como divulgado na última sexta-feira (26) pelo Ministério da Educação (MEC).

Em nota enviada ao O Globo, a instituição alemã esclareceu que o ministro conduziu pesquisas na universidade por um período de três meses em 2016, mas não concluiu nenhum programa de pós-doutoramento.

“Carlos Decotelli não obteve nenhum título na nossa universidade”, afirmou a responsável pela comunicação da Bergische Universität Wüppertal (BUW), Jasmine Ait-Djoudi. A universidade alemã oferece cerca de 110 cursos em diversas áreas e tem mais de 22 mil estudantes.

No currículo disponível na plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Decotelli descreve que frequentou a universidade alemã entre 2015 e 2017 e que recebeu o título de pós-doutor.

O ministro corrigiu seu currículo após o reitor da Universidade de Rosário, na Argentina, confirmar que ele não tem o título de doutor na instituição, apesar de ter estudado lá. Ainda assim, continua constando na plataforma o pós-doc na Alemanha.

Em Wüppertal, o novo ministro da Educação conduziu uma pesquisa sob a orientação de Brigitte Wolf, que foi professora de Teoria do Design na universidade até 2017. A O GLOBO, Wolf confirmou que o ministro não recebeu nenhum título universitário na Alemanha.

Um pós-doutorado não é um título acadêmico formal, mas é um termo usado em referência a pesquisas feitas após um acadêmico obter um título de doutor.

Em seu site profissional, a professora publicou uma entrevista com Decotelli sobre a breve experiência acadêmica do ministro na Alemanha. ?As empresas estão fortemente envolvidas em pesquisa na Alemanha. Os resultados são melhor divulgados e comunicados?, afirmou o ministro em janeiro de 2016.

“No Brasil, a pesquisa é realizada em nome de instituições e autoridades públicas, os orçamentos estão sujeitos a instruções políticas e os resultados da pesquisa permanecem no ambiente acadêmico”, acrescentou.

Na Alemanha, um pós-doutorado dura, em média, de dois a quatro anos e só pode ser feito por candidatos que possuam um título de doutor ? o que não é o caso do novo ministro. Mentir no currículo na Alemanha pode levar a uma pena de prisão de até cinco anos por falsificação de documentos, caso o currículo possua a assinatura do candidato.

O GLOBO entrou em contato o MEC e aguarda a posição de Decotelli.

Em nota publicada no último sábado, o MEC disse que “a universidade alemã aceitou apoiar o projeto, considerando a relevância do tema, a conclusão e a aprovação em todos os créditos obtidos no curso de Doutorado em Administração na Universidade de Rosário”, frisando que o ministro não recebeu nenhum título decorrente desta pesquisa”.

Sobre o doutorado na Argentina, o MEC informou que “ao final do curso, (Decotelli) apresentou uma tese de doutorado que, após avaliação preliminar pela banca designada, não teve sua defesa autorizada”. Decotelli então retornou ao Brasil, sem concluir o doutorado na universidade.

Série de imprecisões curriculares
Essa não é a primeira informação incorreta presente no currículo do sucessor do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Na última sexta-feira, o reitor da Universidade Nacional de Rosario (Argentina), Franco Bartolacci, informou que Decotelli não obteve um título de doutor em administração da Faculdade de Ciências Econômicas e Estatísticas e confirmou que a tese de doutorado foi reprovada.

Depois da repercussão da notícia, o ministro alterou as informações sobre o currículo na plataforma Lattes, excluindo o título da tese ? “Gestão de Riscos na Modelagem dos Preços da Soja” ? e o nome do orientador. Em resposta à publicação do reitor argentino, o MEC divulgou um certificado atestando que Decotelli concluiu ” todos os créditos do doutorado?, mas a pasta não se referiu à obtenção do título de doutor.

O título de mestre do novo ministro da Educação também levanta suspeitas. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) apura um eventual plágio na dissertação de mestrado de Decotelli, que frequentou o curso em Administração profissional na FGV entre 2006 e 2008.

Pelo Twitter, o professor universitário Thomas Conti, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), escreveu que a dissertação de Decotelli reproduz, sem citações e referências bibliográficas, passagens inteiras de um relatório do Banrisul na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Em nota, o Ministério da Educação informou que Decotelli iria revisar o trabalho “por respeito ao direito intelectual dos autores e pesquisadores citados”. “O ministro refuta as alegações de dolo, informa que o trabalho foi aprovado pela instituição de ensino e que procurou creditar todos os pesquisadores e autores que serviram de referência”, diz o MEC no comunicado. “Caso tenha cometido quaisquer omissões, estas se deveram a falhas técnicas ou metodológicas”, afirmou o ministro.

Decotelli foi presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em 2019 e, antes de assumir o MEC, era professor da Pós-Graduação em Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O perfil do ministro no LinkedIn foi removido.

Fonte Click PB

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