Fernando de Noronha volta atrás sobre pulseiras com cores diferentes para influencers e turistas após críticas de segregação
RIO — Nos últimos dias, o santuário ecológico de Fernando de Noronha, em Pernambuco, passou a estar nos holofotes, não pela riqueza natural, praias paradisíacas e paisagens de tirar o fôlego; mas por conta de umas pulseirinhas, que têm dado muito o que falar. No mês passado, os inovadores dispositivos foram apresentados no arquipélago como uma solução para algo que vinha sendo um problema para os turistas: a falta de sinal telefônico e de internet.
Com elas, todos poderiam passar a depositar dinheiro previamente e usá-las como uma espécie de cartão de débito. As críticas, no entanto, começaram a surgir por parte de visitantes e personalidades quando o projeto apresentou também que haveria uma cor de pulseira específica para o status de cada usuário, como numa balada VIP: artistas e influencers seriam reconhecidos com a pulseira roxa, por exemplo. Quem fosse gastar mais de R$ 10 mil, teria uma preta, como num cartão de banco. Após uma enxurrada de comentários negativos, os responsáveis pela ideia agora afirmam que voltaram atrás.
A organização Sou Noronha, que aderiu o projeto junto à empresa de tecnologia Meep, desde esta terça-feira passou a fazer esclarecimentos sobre como será o uso das pulseiras, ainda não implementadas na ilha. Agora, há a informação de que serão apenas duas cores de pulseira, e não mais cinco, como previamente divulgado: uma verde, disponível para todos os visitantes e moradores, e uma cinza, para identificar os comerciantes e empresários. Em nota, os organizadores afirmaram que as pulseiras ainda estão em fase de produção e confirmaram que, a partir de agora, a identificação será apenas para cliente e prestador de serviço.
“O Sou Noronha esclarece que o uso da pulseira eletrônica para facilitar as formas de pagamento na Ilha de Fernando de Noronha separada por categorias e cores se tratava de uma ideia inicial e que não será implementada”, disse em nota. “Como as pulseiras estão em fase de produção, nenhum material foi distribuído a comerciantes ou usuários. A partir de agora, apenas serão identificados consumidores e comerciantes, por pulseiras verde e cinza, respectivamente. Dessa forma, usuários vão conseguir detectar de forma fácil quem está habilitado para a venda de créditos. O projeto foi desenvolvido visando trazer facilidade e segurança nos meios de pagamento de Fernando de Noronha, atendendo turistas e movimentando ainda mais o comércio local”.
Originalmente, o plano previa cinco cores diferentes de pulseira. A imagem de uma publicação no site de turismo Melhores Destinos com as informações divulgadas em julho pelo Sou Noronha logo viralizou. Nela, o portal detalhava como seria a separação dos dispositivos pelo perfil do visitante, que ia desde a azul, com livre utilização e depósito de dinheiro, até uma roxa para celebridades e preta para quem tivesse mais bala na agulha. Neste projeto original, a verde teria uma premissa ecológica e teria que ser devolvida após a viagem; a cinza seria específica para moradores.
?A ideia da pulseira é viável por conta do problema de conexão com a internet e tudo mais, mas essa pulseira tem que ter esse objetivo, e não o de ser algo que separe as pessoas pelo tanto de dinheiro que elas carregam ou por quem elas são em rede social?
A atriz e cineasta Paula Braun foi quem trouxe o assunto à tona nesta terça-feira, no Twitter. Sua publicação, onde questionava a questão da diferenciação dos visitantes e o que ela chamou de “uma grande área VIP” em Noronha, teve grande repercussão em pouco tempo. Ao GLOBO, Braun comentou sobre o assunto e comemorou o fato de os organizadores terem voltado atrás da ideia.
— A ideia da pulseira é viável por conta de todos os problemas de conexão com a internet e tudo mais, mas essa pulseira tem que ter esse objetivo, e não o de ser algo que separe as pessoas pelo tanto de dinheiro que elas carregam ou por quem elas são em rede social. Temos que lembrar sempre que Fernando de Noronha é um arquipélago, que tem uma diversidade de fauna que é maravilhosa, e que é uma reserva ambiental. O lugar precisa ser tratado dessa forma. As pessoas que vão para lá tem que ter em primeiro lugar uma consciência ecológica, e de que aquele é um lugar especial. Quando você separa as pessoas por cores e por status, você esquece do principal que é o lugar e a questão ecológica — comentou.
Ela atribui a grande repercussão — foram mais de 30 mil interações, entre seguidores e outras personalidades — ao fato de todos terem ficado impressionados negativamente com a ideia.
— Fico feliz quando algo assim repercute. Porque o propósito da rede social é a gente dar um feedback para esse tipo de coisa: nós, pessoas que frequentamos ou que queremos conhecer a ilha, não concordamos com isso. E acho que a resposta foi grande porque todo mundo ficou muito impressionado negativamente com essa ideia que, sinceramente, não sei como aprovaram num primeiro momento — concluiu Paula Braun.
Fonte Click PB